quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sim! ela partiu!


Depois de meses esperando o “SIM” de Carolina, os convidados já haviam decorado todos os desenhos daquela igreja...ela não! Ainda olhando para o teto, com a cabeça tombada para traz, a boca aberta, e o buquê pendurado pelas suas duas mãos, que ambas o segurava com cansaço, ela descobria em cada traço um novo sentido para os desenhos...

Todos cansados. Mas o noivo....ahhh o noivo, o trapezista, lembra? Aquele belo rapaz, homem de verdade!!! Lembra? Ele estava lá, mais entusiasmado que uma criança diante da maior piscina de bolinhas do mundo!!! Impecável! Com seu terno novo, seu corte de cabelo e barba do jeito que ela gostava, estava lá! Adoravelmente apaixonado!!!

Um fio de vento desprende uma mecha de cabelo daquele penteado cheio de laquê. Na igreja se sente o pronunciamento de uma tempestade. Aos poucos as pessoas se arrumam na cadeira...na esperança de alguma movimentação no recinto. Carolina após meses, abaixa a cabeça e olha para o noivo. (- Incrível não estar com torcicolo!!! Não é?). Nesse momento a orquestra, já impaciente, inicia a música dos votos, conforme o ensaio. (Avohai)
Ainda com a boca aberta, e olhos fixos, quase que cobertos por uma película, após tanto tempo...Ela percebe que ele está chuviscando....como uma TV velha...Ele está em outra sintonia...ela imediatamente, num impulso, já esquecido por todos ali, bate em sua cabeça, dá toquinhos em seu ombro na esperança de que volte a enxerga-lo, mas nada...

Uma ventania toma conta da igreja e no ápice da música perfeita, as portas se abrem, e os papéis voam, como furacões, contas, notas de dinheiro, contratos...todos papéis voando! A essa altura, todos já descabelados, desaprumados...E o noivo lá Impecável! Sorrindo ternamente para ela!
Quando o gato preto aparece! Já não tão gato...agora com partes do corpo de um homem. As pernas, por exemplo, de homem! Montado em um cavalo, acena para Carolina. Observando cada detalhe daquele rosto a sua frente, Carolina sente o nó dado em sua garganta, e sabe que chegou a hora! Com uma cruz, ela perfura seu peito e arranca seu coração, entrega nas mãos do noivo. Ele sem saber o que dizer, aceita. Já sem o seu sorriso. Nesse momento, alguns espinhos saltam de sua pele...o que torna mais doloroso o adeus. O puro abraço de gratidão, de amor verdadeiro. Os dois em sangue, se agradecem, se beijam e se despedem.
Ela sai correndo, mesmo que em mente estivesse se arrastando, e com a ajuda do gato, monta no cavalo. Eles partem! E a sensação de morte a persegue, mesmo sabendo que poderia ser vida!
No caminho lembra que esqueceu de algo, quando retornam a porta já se fechou! Então ali mesmo, aos pés da escada, ela coloca seu ventre, como presente “quero que você seja feliz! Hei de ser feliz também!”
Sem saber de tudo, sem saber de nada... 
Parte!

Um comentário:

Alice disse...

Ações mto difíceis essas que vc fez. Precisou coragem. Eu admiro.

Sempre deixamos pedaços nossos por onde passamos.