Depois de meses esperando o “SIM” de Carolina, os convidados
já haviam decorado todos os desenhos daquela igreja...ela não! Ainda olhando
para o teto, com a cabeça tombada para traz, a boca aberta, e o buquê pendurado
pelas suas duas mãos, que ambas o segurava com cansaço, ela descobria em cada traço
um novo sentido para os desenhos...
Todos cansados. Mas o noivo....ahhh o noivo, o trapezista,
lembra? Aquele belo rapaz, homem de verdade!!! Lembra? Ele estava lá, mais
entusiasmado que uma criança diante da maior piscina de bolinhas do mundo!!! Impecável!
Com seu terno novo, seu corte de cabelo e barba do jeito que ela gostava,
estava lá! Adoravelmente apaixonado!!!
Um fio de vento desprende uma mecha de cabelo daquele
penteado cheio de laquê. Na igreja se sente o pronunciamento de uma tempestade.
Aos poucos as pessoas se arrumam na cadeira...na esperança de alguma movimentação
no recinto. Carolina após meses, abaixa a cabeça e olha para o noivo. (- Incrível
não estar com torcicolo!!! Não é?). Nesse momento a orquestra, já impaciente,
inicia a música dos votos, conforme o ensaio. (Avohai)
Ainda com a boca aberta, e olhos fixos, quase que cobertos
por uma película, após tanto tempo...Ela percebe que ele está
chuviscando....como uma TV velha...Ele está em outra sintonia...ela
imediatamente, num impulso, já esquecido por todos ali, bate em sua cabeça, dá
toquinhos em seu ombro na esperança de que volte a enxerga-lo, mas nada...
Uma ventania toma conta da igreja e no ápice da música
perfeita, as portas se abrem, e os papéis voam, como furacões, contas, notas de
dinheiro, contratos...todos papéis voando! A essa altura, todos já
descabelados, desaprumados...E o noivo lá Impecável! Sorrindo ternamente para
ela!
Quando o gato preto aparece! Já não tão gato...agora com
partes do corpo de um homem. As pernas, por exemplo, de homem! Montado em um
cavalo, acena para Carolina. Observando cada detalhe daquele rosto a sua frente,
Carolina sente o nó dado em sua garganta, e sabe que chegou a hora! Com uma
cruz, ela perfura seu peito e arranca seu coração, entrega nas mãos do noivo. Ele
sem saber o que dizer, aceita. Já sem o seu sorriso. Nesse momento, alguns
espinhos saltam de sua pele...o que torna mais doloroso o adeus. O puro abraço de
gratidão, de amor verdadeiro. Os dois em sangue, se agradecem, se beijam e se
despedem.
Ela sai correndo, mesmo que em mente estivesse se
arrastando, e com a ajuda do gato, monta no cavalo. Eles partem! E a sensação
de morte a persegue, mesmo sabendo que poderia ser vida!
No caminho lembra que esqueceu de algo, quando retornam a
porta já se fechou! Então ali mesmo, aos pés da escada, ela coloca seu ventre,
como presente “quero que você seja feliz! Hei de ser feliz também!”
Parte!